12/12/2010
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No meio do caminho de todos nós sempre aparece algo como a nos conduzir para além do que os desejam nossos pais, às vezes avós e/ou parentes próximos. No meio do caminho de Noel Rosa (imagem 2) aparecera um bandolim e lá se fora o médico sonhado pela família. No meio do caminho de Noel também surgira um violão. Ainda no meio do caminho de Noel houvera a Zona do Mangue, região de prostituição que ficara entre sua residência e o colégio em que estudara. E fora nesse pedaço de chão no meio do caminho, formado por bares e cabarés, por trens do subúrbio, nos braços de muitos amores, entre mendigos e malandros, nas batucadas dos morros, nas ruas de uma cidade de encantos, que Noel vivera intensamente aquilo que ele soubera fazer como poucos: o samba!
E talvez por saber que a vida é local (pode ser na Vila) e momentânea, ou por qualquer outra razão que fora de sua exclusividade e não nos cabe especular, que Noel vivera num estágio de intensa urgência, tendo a bebida e o cigarro como companheiros mais fieis! E foram apenas vinte e seis anos de uma vida preenchida em todos os sentidos, da música à boemia, rodeada de sons e belas letras que influenciaram gerações de compositores da sina da boa querença!
Se pudesse escrever algo sobre o mestre Noel Rosa, começaria com um “Palpite Feliz”: diria que se ele estivesse vivo deixaria a Vila Isabel e se instalaria na Ilha de Santana. Sim, Caicó também é de São Sebastião! E do alto do Serrote da Cruz, aos cem anos de idade, comporia um clássico chamado “Feitiço da Ilha”! Sairia no Bloco do Magão cantando a marchinha A-E-I-O-URSA! O seu escritório seria o Bar de Ferreirinha, onde escolheria Bibica como interlocutor de suas necessidades; como seu ilustre “Confidente de Botequim”!
Pediria a Xexéu para abdicar de sua aposentadoria e formariam a mais despretensiosa e abstrativa parceria do mundo da boemia e mostraria que nada entre os dois seria “A. B. Surdo”! Chamaria Maria Preta para voltar à terra e lhe fazer alguns agrados e a contemplaria com um samba cujo título seria “Rainha de Cabaré”! Na Praça da Matriz, estaria sempre socializando uns goles de cachaça com o missiva, Pituleira, o Gordo Roberto, Tuíla, Bode Véio, Ribaçã, enfim todos os dos tetos de fícus e das tamarindeiras! Vez por outra, quando sentisse necessidade de conversar com Deus, faria uma visita a Tinonô sem antes perguntar: “Com que Roupa”? E todo santo dia, antes de iniciar os trabalhos, passaria na Rua do Peido e comprimentaria o Pinto, seu parceiro de zueira!
E como seu “Último Desejo”, rogararia ao Vice-prefeito da cidade, escrevinhador de sentimentos, que sensibilizasse o Prefeito Bibi a promover uma limpeza no Poço de Santana, para que suas águas voltem a ser límpidas e cristalinas como dantes, possibilitando enxergar melhor sua “Morena Sereia”!
Feliz aniversário, Poeta da Ilha de Santana!
Por Gilberto Costa – Vice-prefeito de Caicó (na foto).