Em sintonia com o Centrão, PSB se afasta do governo Lula no Congresso

Partido da base, com três ministérios e a vice-Presidência, o PSB tem atuado no Congresso de maneira divergente dos interesses do Palácio do Planalto e demonstrado alinhamento ao Centrão, grupo que vive uma relação com o Executivo marcada pela instabilidade.

Além de ter entregue três votos contra as expectativas do presidente Lula no decreto que mudava o marco do saneamento, derrotado na Câmara, a legenda é liderada na Casa por Felipe Carreras (PE), que também está à frente do “blocão” que reúne siglas distantes do governo, como PP e PSDB, além do União Brasil, que tem cargos no primeiro escalão, mas oscila no apoio.

Carreras, próximo ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já prepara uma nova derrota ao Executivo: é dele o requerimento que acelerou a votação que pode derrubar a exigência de visto para cidadãos de outros países, como os EUA, visitarem o Brasil.

O posicionamento já gera cobranças. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que criticou a entrada do PSB em um bloco com oposicionistas, disse, após reunião com integrantes do partido que “quem está no governo tem que estar com o governo”. Para o deputado Lindbergh Farias (RJ), “teria sido correto puxar” o partido para um bloco com o PT.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, reconhece que a legenda na Câmara se afastou do governo — de acordo com ele, consequência da proximidade de Carreras com o Centrão. Segundo o dirigente, o deputado está no início de uma liderança de um “bloco heterogêneo” e “não quis criar um problema” com o conjunto de siglas logo na largada da relação. Siqueira avalia como natural que o governo cobre fidelidade e acrescenta que as discordâncias são “episódios isolados”:

— São coisas que acontecem na política, mas o PSB, por ser governo, precisa estar mais afinado e votar a favor dos projetos que estão acertados.

Carreras foi um dos agraciados com o orçamento secreto no governo de Jair Bolsonaro, mesmo sendo de um partido de oposição — outros parlamentares que se contrapunham à gestão também receberam verbas. O deputado apoiou a primeira eleição de Lira para o comando da Casa em 2021, ainda que o PSB tenha estado oficialmente ao lado da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP).

Apesar de tratar como “assunto superado” a derrota do governo no marco do saneamento, Carreras articula um novo revés na decisão do Executivo de voltar a exigir visto de cidadãos de países como os Estados Unidos, em um outro recado do Congresso. A iniciativa une integrantes da oposição, como Marcel Van Hattem (Novo-RS), autor do projeto, e também do Centrão, caso de Elmar Nascimento (União-BA).

— Ele é presidente da Frente do Turismo, então eu o procurei. Foi excelente a reação dele. Não dá para concordar com uma medida que vai prejudicar diretamente o turismo nacional — afirmou Van Hattem

Para Carreras, é preciso tornar “a vinda de estrangeiros para o Brasil mais atrativa”:

— O turismo não tem coloração partidária, e a nossa intenção sempre foi ajudar a alavancar e fortalecer o turismo no país. Essa é a indústria que mais gera emprego e renda no mundo, e o Brasil precisa justamente disso.

Com uma bancada desidratada, de apenas 14 deputados, o PSB perdeu o governo de Pernambuco, o seu principal reduto até o ano passado, e está desprestigiado nos cargos de segundo escalão do governo federal. Uma das cobranças é uma superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Pernambuco, que também é disputada pelo Republicanos e pelo PT.

A legenda chegou a reivindicar o comando nacional do órgão, que permaneceu com o União Brasil.

“Chover no molhado”

O líder na Câmara disse que o assunto da Codevasf não foi tratado na reunião com o vice Geraldo Alckmin e ministros do partido (Flávio Dino, da Justiça, e Márcio França, de Portos e Aeroportos), porque “seria chover no molhado”, mas afirmou que tem a expectativa de que o governo atenda aos pedidos. Siqueira disse que há “expectativa positiva” em relação ao tema.

No Senado, há também parlamentares distantes do governo, como o senador Chico Rodrigues (RR), que já foi vice-líder de Jair Bolsonaro e se notabilizou por ser flagrado escondendo dinheiro na cueca durante uma operação policial.

Na semana passada, Jorge Kajuru (GO), líder da sigla na Casa, reclamou do tratamento que alguns ministros têm dispensado ao Senado e disse que no período de Bolsonaro havia “mais respeito” pelos parlamentares.

Por O Globo

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