Infectologista Fernando Suassuna ao defender o uso da Ivermectina no tratamento precoce da Covid-19

Médicos e pesquisadores divergiram nesta terça-feira (14) sobre o chamado tratamento precoce contra a Covid-19, que envolve medicamentos cuja eficácia para prevenir ou tratar a doença não está cientificamente comprovada. É o caso da cloroquina, da hidroxicloroquina e, mais recentemente, da ivermectina – um antiparasitário até então usado contra pulgas e piolhos. O debate virtual foi promovido pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha o combate ao novo Coronavírus.

A deputada e médica Carla Dickson (Pros-RN), que propôs a discussão do tema, disse que a urgência da pandemia a fez repensar a necessidade de comprovação científica da eficácia desses medicamentos. “Estamos falando de vidas e precisamos fazer alguma coisa”, disse ela. Defensora da cloroquina, a deputada Soraya Manato (PSL-ES) defendeu a autonomia dos médicos. “No momento, temos o kit Covid-19 e é o que estamos usando”, disse.

Por outro lado, a também médica e deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) discordou. “O que estamos debatendo é se há comprovação do benefício desses medicamentos. E a fala majoritária dos especialistas, infectologistas, da OMS [Organização Mundial da Saúde] é que não há”, disse Feghali. “Esse discurso que diz ‘não tendo nada eu dou isso aqui’, porque o paciente vai sair mais tranquilo, achando que está curado, esse não é nosso papel. Isso é propaganda enganosa”, completou

O secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Helio Angotti Neto, criticou a análise isolada de artigos publicados em revistas científicas e a politização do debate. “O ministério revisa diariamente a literatura internacional sobre diagnóstico e tratamento de coronavírus. Olhamos todo o contexto”, disse Angotti Neto. Ele citou diversos artigos que atestariam evidências favoráveis à cloroquina no tratamento precoce. “No tratamento precoce, tudo o que se tem é favorável”, disse.

Cotada para assumir o Ministério após a saída de Nelson Teich, a médica imunologista Nise Yamaguchi reforçou evidências da ação da cloroquina na fase de replicação viral (reprodução do vírus), mas reconheceu que faltam estudos conclusivos sobre a eficácia dos medicamentos. “Faltam os estudos randomizados, mas já temos uma meta-análise em andamento bem robusta”, disse.

Ivermectina

Médico infectologista , o presidente do Comitê Científico de Combate à Covid-19 de Natal (RN), Fernando Suassuna, disse que não há tempo para o academicismo. Ele defendeu o uso da ivermectina no tratamento precoce da Covid-19. “A ivermectina tem duas histórias: tem a de 40 anos na medicina tropical e, de 2016 até agora, a que envolve pesquisas na oncologia , no envelhecimento celular, no ciclo autofágico, que fazem dela uma droga imunomoduladora em potencial. Mas não falam disso. E ficam ridicularizando, porque é um remédio de verme”, disse.

Marido da deputada Carla Diclkson, Albert Dickson, médico oftalmologista e deputado estadual no Rio Grande do Norte, também defendeu o uso da droga. “Um amigo do meu filho usou ivermectina por conta própria, o que eu não recomendo, mas todos na casa dele pegaram Covid-19 e ele não”, disse.

Qualidade dos estudos

Para a doutora em microbiologia e colaboradora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) Natalia Pasternak,  a cloroquina foi uma promessa que não se confirmou. “O que temos de evidência favorável são estudos observacionais ou em vitro (laboratório) ou de péssima qualidade e com suspeita de fraude”, disse. Ela reforçou que não existem estudos clínicos definitivos sobre a eficácia dos medicamentos.

Médico e pesquisador da fundação Oswaldo Cruz, Julio Croda disse que o governo vem se baseando em diversos estudos da região de Marseille, na França, que teriam falhas técnicas e éticas. “Não existe evidência alguma para o uso de qualquer medicação em termos de tratamento precoce. Defender isso é enganar o povo. Hoje o que salva vidas é fazer isolamento social, ter leitos e equipes bem treinadas”, disse.

Diretora do hospital Couto Maia, na Bahia, Ceci Nunes questionou a distribuição de medicamentos sem a comprovação por estudos clínicos randomizados, considerados o padrão-ouro por envolverem a análise de dois grupos de pacientes: um grupo recebe o medicamento a ser testado; outro, um placebo (produto sem efeito). A ideia é verificar se o medicamento foi , de fato, o fator determinante para o resultado alcançado.

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