Notas oficiais do Instituto Lula desnudaram Lula

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Há uma originalidade perversa nas notas oficiais do Instituto Lula. Elas transformam Lula numa caricatura burlesca do velho mito. É como se os textos tivessem a missão inconsciente de desnudar Lula. Desvendam a promiscuidade imobiliária do personagem confessando-a em conta-gotas.

As notas do Instituto Lula travam uma relação instável com a verdade. Tratam o noticiário como ficção urdida para difamar o grande líder. Escoram seus desmentidos em meias verdades, realçando exatamente a metade que é mentira. A absoluta verdade, só em caso de última necessidade.

Nas notas do Instituto Lula, a verdade não só é muito mais incrível do que a ficção como é muito mais difícil de inventar. Tamanho é o desejo de criar uma verdade particular para Lula, que os textos mentem mal. Ao tentar remendar a situação, deixam as mais espantosas pistas.

Na primeira versão, Lula não era dono do triplex do Guarujá. Sua mulher Marisa adquirira apenas uma cota-parte da Bancoop. E o advogado da família não tinha a mais remota ideia de que uma empreiteira enrolada na Lava Jato reformara o apartamento que o Ministério Público suspeita pertencer ao clã dos Silva.

Na penúltima versão, as meias verdades anteriores aproximaram-se dos fatos narrados pelas testemunhas inquiridas pelo Ministério Público. Súbito, a cota-parte de Marisa transformou-se no apartamento 141, uma unidade padrão do prédio do Guarujá. Que ela comprara da Bancoop na planta, em 2005.

A mulher de Lula pagara as prestações do imóvel até 2009. Nesse ano, a cooperativa foi à breca. E a OAS assumiu a obra. Sustenta-se que Marisa não quis aderir ao novo contrato com a empreiteira. Ainda assim, preservou o direito de requerer seu dinheiro de volta a qualquer tempo.

Nesse novo enredo, o célebre triplex foi visitado por Lula e Marisa. Ciceroneou-os ninguém menos que Léo Pinheiro, o dono da OAS. O casal avaliou que, como estava, o imóvel não interessava. A empreiteira investiu quase R$ 1 milhão para adaptar o triplex. Instalou-se até elevador privativo.

Admitiu-se que Marisa e o filho Fábio Luís, o Lulinha, visitaram o triplex durante as obras. Sonegou-se o número de vezes. O Instituto Lula absteve-se também de esclarecer se as obras foram realizadas por encomenda dos Silva. Informou-se apenas que a família desistiu de comprar o triplex, mesmo reformado.

Por quê? Lula e Marisa abespinharam-se com o noticiário infundado, apinhado de boatos e ilações. Em novembro de 2015, solicitaram a devolução do dinheiro investido, com desconto de 10%, nas mesmas condições dos outros cooperados que não aderiram ao contrato com a OAS.

Mesmas condições? Lorota. A nenhum outro cliente foi concedida a prerrogativa de esperar seis anos para pedir a devolução da grana. Os outros tiveram de fazer a opção em 2009. Curiosamente, o distrato que teria sido assinado por Marisa em 2015 consta de um documento datado de 2009.

Nenhum outro casal visitou o edifício na companhia do empreiteiro Léo Pinheiro. A OAS não mandou reformar nenhuma unidade além do triplex 164-A. Empreteiro que derrama quase R$ 1 milhão numa reforma sem exigir o compromisso de compra do imóvel é coisa jamais vista na história desse país.

A pretexto de desmentir as relações promíscuas de Lula com a OAS, a entidade de Lula reforçou-as. Nesse tipo de ligação, a alma do negócio é o segredo. O ziguezague das notas do Instituto Lula avilta a alma do negócio. Especialistas no ramo, como Paulo Maluf, têm a manha da coisa. Lula não. Maluf jamais modifica versões.

Ao fornecer suas verdades em suaves prestações, o Instituto Lula rompe a normalidade de um modelo de transgressões secular. Em menos de duas semanas, Lula meteu-se em narrativas imobiliárias que o acomodaram num apartamento à beira mar, ao lado de um empreiteiro tisnado pela corrupção, e o transformaram em visitante contumaz de um sitio em Atibaia reformado por uma construtora cujos executivos tornaram-se delatores da Lava Jato.

Sempre tão loquaz, Lula deveria convocar uma entrevista para assumir sua própria defesa. Só um suicida terceirizaria a tarefa ao didatismo revolucionário dos redatores do Instituto Lula.

Por Josias de Souza

Uma resposta

  1. O apedeuta deseja que a população brasileira faça o clássico papel do corno que, após ser o último a saber que sua mulher o trai, vai investigar, e quando flagra a dita cuja beijando na boca do amante, acredita na versão da mesma que foi apenas um beijo de amigos.

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