Numa série de reuniões nas últimas semanas, o presidente Lula conseguiu dobrar as resistências da diretoria da Petrobras à ideia de que a empresa deve ser parte de uma visão estratégica de Estado, afinada com as diretrizes do governo, seu maior acionista, para o desenvolvimento do país.
O resultado mais imediato dessa rodada de conversas, que acabou por reduzir a chama em que a batata do presidente da empresa, o ex-senador Jean Paul Prates, era posta para assar, é que deve demorar um pouco até que a companhia anuncie reajustes nos preços dos combustíveis, embora o mercado já aponte descompasso entre os valores praticados aqui e os preços internacionais.
Quem tem acompanhado essas reuniões nota em Prates e nos demais diretores uma disposição maior em aquiescer diante do discurso do governo, que não é novo em relação à maneira com que os governos anteriores de Lula e de Dilma Rousseff enxergavam o papel da Petrobras: gerar empregos, fortalecer a indústria nacional (a expressão “valorização do conteúdo local”, tão em voga naqueles anos, voltou à mesa de negociações com força), investir em refino e em gás e descasar os preços dos combustíveis do valor internacional — o que já foi anunciado meses atrás.
Nas áreas em que ainda pode fazer prevalecer sua visão de desenvolvimento, Lula fará. Prates começou a entender como a banda toca e, depois de ser acusado por setores do governo e do PT de ter sido cooptado pela visão dos acionistas privados da Petrobras, parece disposto a rezar pela cartilha do presidente. Dançar conforme a música para não dançar, em resumo.
O Globo