24/03/2010
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Que momento é esse da sua vida? Qual a reflexão que o senhor faz?
A reflexão que eu faço é da fragilidade da vida da gente. A gente as vezes briga por tantas coisas, luta por tantas coisas e esquece de outras tantas que são tão importantes, como a saúde. Tenho hoje a convicção que a prevenção é uma coisa fundamental, se não tivesse procurado os exames de rotina eu não teria detectado o câncer, até porque não sou fumante e nunca tive nenhum sintoma referente a problema nos pulmões. Vim fazer os exames de rotina, até porque é ano eleitoral, de campanha maior. E fui surpreendido na última hora com a informação que deixa a gente atordoado. No primeiro momento é difícil e vi que é fundamental que as pessoas tenham a fé em Deus. A pessoa não pode viver sem ter fé. Quando fui informado (da doença) procurei alguma coisa e não encontrei, só encontrei a fé. Foi a fé que me segurou, foi que me deu as condições de reagir e decidir o que iria fazer da minha vida.
O que pesou na decisão do senhor de fazer a cirurgia antes de assumir o Governo. O senhor não temeu que a cirurgia pudesse comprometer sua posse?
Eu tomei uma decisão e minha decisão foi a seguinte: primeiro lugar minha vida, tenho que lutar pela minha vida. Perguntei a equipe médica qual atitude de quem queria resolver o problema e ela disse que seria retirar. Havia feito o exame um ano e dois meses antes e não existia nada, ou seja, era um nódulo recente.
O senhor sentiu medo?
Senti medo. Senti muito mais medo da própria cirurgia do que do fato da doença. Agora eu fico impressionado com o poder de adaptação da criatura humana. Depois de segundos minha forma de agir, de ver as coisas era outra.
O senhor se submeterá a cinco semanas de quimioterapia e radioterapia. Isso poderá comprometer a sua campanha como candidato a governador?
Não. Isso eu conversei com os médicos. É que as vezes a gente raciocina como se estivesse as vésperas da eleição. Estamos em março, a eleição é em outubro, convenção será no final de junho. Raciocine que eu assumo em abril e eu tirarei cinco semanas para cuidar dessa prevenção sugerida pelos médicos no tratamento. Serão cinco dias por semana, em cinco semanas. Então vou passar um mês vindo e passando cinco dias em São Paulo. É um sacrifício, atrapalha alguns planos, mas não inviabiliza a campanha nem minha administração. No primeiro momento, como governador, vou anunciar e publicar medidas a serem adotadas na área da segurança, na área administrativa, na área de saúde. Feito isso, entrego e delego aos secretários, deixo as pessoas para ficarem acompanhando, faço o projeto, volto para o tratamento.
Esse medo de inviabilizar a candidatura pelo tratamento, então, o senhor não tem?
Não. Pela forma como me foi descrito, são cinco semanas em abril. Cinco semanas em abril não inviabilizará uma candidatura cuja eleição será em outubro. As convenções serão em junho e o pleito em outubro.
Mas, o senhor não chegou a cogitar disputar um outro cargo, para o qual a campanha fosse mais “leve”?
De jeito nenhum. Eu só tenho a alternativa de ser candidato a governador. Sigo essa alternativa sem aflição, sem angústia e sem irresponsabilidade. Se não desse para assumir não assumiria.
Há algo que lhe faça mudar de ideia em relação à candidatura?
Só a minha saúde. E sobre isso eu tenho muita fé. Tenho uma formação religiosa cristã. Reconheço que quando criança fui muito mais assíduo, frequentador, depois me afastei um pouco. Mas sinto que ainda tenho uma fé muito forte.
Há comentários de que o senhor poderia assumir o Governo e o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo seria o candidato da base governista. Outros chegaram a apostar que até o próprio deputado Robinson Faria poderia rever a posição e ser o candidato apoiado pela governadora Wilma de Faria.
Eu não negocio absolutamente nada com relação a doença. Vai ser candidato porque não está doente, não vai ser candidato porque não está doente, isso eu não comento. Eu serei candidato no pleno gozo da minha saúde. Eu me nego a negociar nesses termos ou dizer que eu vou trabalhar menos em um cargo. Eu vou com toda força ou não vou (ser candidato).
E neste momento o senhor vai ser candidato?
Nesse momento vou com toda força, com toda convicção, toda fé que tenho em Deus de que vou ficar bom e com toda convicção que isso não vai me atrapalhar. E digo isso não só pela fé, mas porque tenho dados sobre os tratamentos, como já lhe disse. Se me dissessem: o tratamento será de seis meses, eu não iria prejudicar o meu Estado nem o meu partido, tampouco iria colocar os meus amigos em situação difícil. Eu saberia sair com dignidade e fazer o que era minha opção, ou seja, cuidar da minha saúde.
Até que ponto o senhor irá vincular sua candidatura ao Governo à candidatura ao Senado de Wilma de Faria?
Eu tenho uma grande admiração pela governadora, tenho dito que não existem pessoas e governos iguais. Alguns dizem que os governos serão iguais, mas nem os dedos das mãos são iguais. Ela tem projetos importantes e que são bem avaliados. Eu vou tratá-los com todo carinho, se puder melhorar, melhorarei, e darei a ela toda atenção que ela sempre mereceu. Ela (a governadora) sempre foi muito correta e nesse momento difícil, hora nenhuma questionou, disse que estava comigo e eu que resolvia.
Mas o senhor teme que sua doença possa transparecer fragilidade para o eleitor potiguar?
Não. A medicina está tão avançada, os exemplos são tão claros, como a ministra Dilma Roussef, que está avançando nas pesquisas para presidente da República. No Estado tivemos problema como de Henrique Eduardo que venceu e está hoje vivendo o melhor momento da sua vida pública. Vejo, hoje, o grande desenvolvimento da medicina, pela modernidade que hoje existe da medicina e os exemplos que estão aí. (Nesse momento ele se emociona). A quantidade de e-mails, de mensagens que recebi, foi algo que me tocou muito. Eu não imaginava que tivesse tanta gente, que torcesse pelos outros, são pessoas que não têm acesso a mim, que nunca fiz nada, mandam mensagem, insistem. (Novamente se emociona)
O que o senhor diria para os adversários no pleito de 2010?
Que se preparem para não serem tomados de surpresa, façam seus checapes. Vou chegar pronto para trabalhar, para discutir os projetos do Rio Grande do Norte, discutir propostas. Só não vão contar comigo para encher o Rio Grande do Norte de bandeira azul, vermelha, encarnada, para fazer pastoril político. Isso não.
E para os que pensam ou comentam sobre uma troca de nomes na chapa do PSB?
Serão frustrados.
Como o senhor escolherá o candidato a vice-governador?
Acho que nunca fizemos uma coisa tão certa como deixar a vaga de vice para ser negociada. Agora que estamos com uma legislação eleitoral começando a ser interpretada por juristas e tribunais. Quantos partidos estavam devidamente acertados e agora, em função das novas interpretações, vão ter que mudar? Estamos prontos e abertos para qualquer mudança, tendo ainda uma vaga na nossa chapa.
O senhor teme que o PMDB venha aceitar esse convite feito pelo senador Garibaldi Filho ao deputado Henrique Alves para apoiarem, juntos, a chapa do DEM (Rosalba Ciarlini)?
Não temo porque conheço Henrique de muitos anos. Eu comecei a vida pública com o deputado Henrique Eduardo, com Garibaldi Filho, com Antônio Câmara. Havia um prazo para se filiar ao MDB, que na época era secretariado por Roberto Furtado. Eu estava no Rio de Janeiro fazendo curso da Fundação Getúlio Vargas, curso de Administração de Empresas, e Henrique Eduardo – com o pai cassado – estava lá também. A gente conversava muito, na perspectiva de vir a ter candidato no Rio Grande do Norte. Garibaldi, em Natal, eu e Henrique no Rio. E nós viemos no carro da minha mãe e combinamos o seguinte: só tinha uma solução. Fazer viagem direta. Fizemos em 48 horas, Rio-Natal; eu dirigia um tanque de gasolina e Henrique dirigia outro tanque. Paramos em Natal, na porta do escritório de Roberto Furtado e assinamos, no último dia, a ficha de filiação do MDB para ser candidato a deputado. Digo isso porque falam na possibilidade de Henrique Eduardo deixar o palanque (de Iberê Ferreira). Eu o conheço e sei que ele toma posição e mantém posições políticas.
Fonte: Tribuna do Norte – Entrevista da Jornalista Anna Ruth com o vice-governador Iberê Ferreira de Sousa.