Robson Pires
20/03/2010
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O papa Bento 16 denunciou neste sábado, em uma carta aos fiéis irlandeses, “graves erros” de julgamento cometidos pelo Episcopado da Irlanda, acusado de ter encoberto, durante décadas, casos de abusos sexuais contra crianças cometidos por padres.
Bento 16, que não se referiu às denúncias em outros países da Europa e até mesmo no Brasil, anunciou a abertura de uma investigação em várias dioceses da Irlanda, em seminários e em congregações religiosas.
Na carta, que o papa anunciou em sermão na quarta-feira passada (17), ele expressa ainda “muita desolação” e pede desculpas às vítimas, manifestando a vergonha e o remorso de toda a Igreja Católica ante o escândalo de pedofilia.
“Vocês sofreram gravemente e eu sinto muito, verdadeiramente”, disse Bento 16, em uma medida inédita que visa a recuperar a confiança da Igreja Católica. “É compreensível que vocês achem difícil perdoar e se reconciliar com a Igreja. No nome dela, eu abertamente expresso a vergonha e remorso que nós sentimos”.
Ele disse ainda que está disposto a se encontrar com as vítimas e conversar sobre o sofrimento que enfrentam.
Ao anunciar a carta, o papa disse esperar que ela ajudasse a curar as feridas e renovar a fé.
O papa não cita qualquer responsabilidade do Vaticano no escândalo ou medidas de punição específicas para os bispos que esconderam os casos de abuso.
O papa diz apenas que os bispos devem continuar a colaborar com as autoridades civis na investigação.
“Eu reconheço quão difícil foi entender a extensão e a complexidade do problema, obter informação confiável e tomar as decisões certas sob a luz de conselhos conflitantes”, escreveu.
“De qualquer forma, precisa ser admitido que graves erros de julgamento foram cometidos e falhas na liderança ocorreram. E isto seriamente danificou sua credibilidade e efetividade”.
Bento 16 aconselha ainda aos culpados pelos abusos que “não escondam nada”.
“Abertamente assumam sua culpa, submetam-se às exigências da Justiça, mas não abandonem a misericórdia de Deus”, disse o papa, que criticou os criminosos por trair a confiança dos fiéis e trazer vergonha à Igreja.
A carta encerra com uma oração para os fiéis meditarem enquanto tentam reconstruir a Igreja.
“Que nosso arrependimento e nossas lágrimas, nosso esforço sincero de nos refazermos de erros passados, e nosso firme propósito de consertar, tragam uma abundante colheita de graça para o aprofundamento da fé nas nossas famílias, paróquias, escolas e comunidades, para o progresso espiritual da sociedade irlandesa e o crescimento da caridade, justiça, alegria e paz dentro de toda a família humana”.
Escândalo
O Vaticano reconheceu ainda os abusos cometidos por dois monsenhores e um padre do município de Arapiraca, a 130 quilômetros de Maceió (AL), depois de terem sido acusados de pedofilia por alunos de um coro e por seus familiares.