Na posse do vice-presidente José de Alencar como novo ministro da Defesa, Lula cometeu um primor de dubiedade. Disse a certa altura do seu discurso:
– (defendeu que) ninguém fosse obrigado a pagar o resto da vida por coisas das quais muitas vezes nem participou, e que a gente pudesse terminar este governo mais irmado do que em qualquer outro momento da nossa história, entre sociedade civil e os militares brasileiros.
É um mistério o que ele quis dizer com a idéia de que”ninguém fosse obrigado a pagar o resto da vida por coisas das quais muitas vezes nem participou”. O que está em foco, com mais intensidade de menos de um mês para cá, é a abertura ou não dos arquivos da ditadura de 64.
Familiares de mortos e de desaparecidos durante a ditadura cobram o acesso aos arquivos para esclarecer o que aconteceu com eles. Ninguém fala em vingança ou punição. Até porque a Lei da Anistia perdoou os crimes praticados durante a ditadura.
Não existe, sequer, um clamor para que as Forças Armadas reconheçam crimes cometidos por muitos dos seus integrantes. Tal reconhecimento já foi feito pelos militares argentinos e, há pouco, pelos chilenos.
Para que”ninguém fosse obrigado a pagar o resto da vida por coisas das quais muitas vezes nem participou” deveriam nossos generais, brigadeiros e almirantes pedir desculpas à Nação pelos crimes que seus antecessores autorizaram, avalizaram ou fizeram de conta que não viram.
Imagino que deva ter sido isso o que Lula quis dizer. Ou não? Ou ele quis sugerir que se pusesse um ponto final na discussão sobre a abertura dos arquivos da ditadura?
Por Noblat