Pacote Moro e Previdência provocam divisão sobre qual proposta deve ser votada antes

A primeira semana de trabalhos no Congresso externou ruídos do governo do presidente Jair Bolsonaro na formação de sua base parlamentar. Além de disputas internas, o núcleo mais próximo do Planalto deixou claras divergências na definição da agenda prioritária no Legislativo .

Nos últimos dias, enquanto parlamentares alinhados a Bolsonaro defendiam o empenho imediato do governo na aprovação do pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, outros aliados do presidente foram na direção contrária, pregando a necessidade de se discutir primeiro a ainda desconhecida proposta de reforma da Previdência.

Nesta quinta-feira, o próprio Moro tentou encontrar um meio-termo na discussão, ao dizer que as propostas poderiam tramitar ao mesmo tempo.

— A reforma da Previdência é prioridade, mas as duas questões podem ser tratadas em paralelo.

A equipe econômica evita comentar eventuais divergências e nega que exista uma disputa.

Na quarta-feira, uma das primeiras manifestações favoráveis a Moro veio do filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que defendeu a priorização do pacote anticrime como uma espécie de primeiro teste para a articulação política do governo na Câmara. No mesmo dia, porém, o filho de Bolsonaro recebeu sinal contrário do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele defendeu o foco dos parlamentares na reforma da Previdência.

Na mesma linha foi o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), que disse ontem considerar contraproducente dar celeridade ao pacote neste momento:

— Minha opinião é a mesma do presidente Rodrigo Maia. Não se pode contaminar um ambiente quando precisamos arrumar um consenso para a reforma da Previdência. Portanto, o assunto tem que vir depois.

A falta de sintonia na condução da agenda política não é exclusividade da Câmara. Dentro do próprio governo os auxiliares do presidente aguardam a saída de Bolsonaro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para definir a melhor estratégia a seguir.

Enquanto alguns assessores do presidente corroboram a ideia de começar pela pauta de Moro, outros ponderam que esse caminho pode ser “uma faca de dois gumes” porque, se uma vitória pode dar força para enfrentar a reforma da Previdência, uma derrota pode prejudicar a aprovação. Na avaliação desses integrantes do governo, a reforma da Previdência merece esforço concentrado por dar a resposta aguardada pelo mercado e fôlego para apresentar outras pautas. Na Casa Civil, o discurso é que a sequência dos projetos a serem apresentados está sendo discutida e só será revelada mais adiante por “uma questão de estratégia”.

O presidente, que retirou a bolsa de colostomia, não tem data para ser liberado pelos médicos. Antes da internação, havia a expectativa de que os ministros fossem a São Paulo despachar em um gabinete improvisado. Com o adiamento da alta, no entanto, as visitas dos ministros foram suspensas.

Enquanto Bolsonaro está distante, a base se envolve em disputas. O líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), por exemplo, não consegue reunir os líderes de bancada para discutir uma agenda de votações. Seu nome foi indicado à revelia da Casa Civil de Onyx e sem qualquer consulta a líderes no Congresso. Ele tem sido boicotado no PSL e por outras siglas. No convite à reunião, chamou líderes “do apoio consistente e apoio condicionado”, termos que viraram piada entre parlamentares, que ficaram sem saber do que se tratava.

Apenas um apoio formal
Líderes também têm se queixado da falta de diálogo com o ministro da Casa Civil. Segundo eles, Onyx mantém pouco contato com os representantes das legendas e não faz questão de fazer ligações para apresentar um caminho para as pautas do Congresso. Nesta semana, o ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, foi avisado por parlamentares que há uma “desarticulação política”. Até agora, apenas o PR anunciou apoio formal ao governo.

Com o governo à procura de foco, Maia vai preenchendo o vácuo político que se formou. Nos últimos dias, o presidente da Câmara conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho. Ouviu de Marinho que será o “grande articulador” da reforma. Maia, inclusive, tem viajado aos estados para negociar o texto com governadores. Ontem, esteve com Camilo Santana (PT), no Ceará. Estará hoje em São Paulo, onde encontrá João Doria (PSDB). Na próxima semana, quer conversar com Wellington Dias (PT) no Piauí e Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco, além de Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás e Mauro Mendes (DEM) no Mato Grosso.

O GLOBO

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