Falta da’água ia separando casal. Governo não deixou

A escassez de água quase acabou com a união de dois casais no sítio Bamburral, em Apodi. Geilma Paiva, 44, quase deixou o marido Francinildo Gama pelas dificuldades enfrentadas para manter a casa funcionando sem água. Para lavar roupa, por exemplo, tinha que percorrer 3 km até o rio mais próximo. “Eu disse a ele que se não chegasse água, eu ia embora. Mas graças a Deus chegou”, comemora.

A comunidade foi beneficiada pelo pelo Edital de Acesso à Água do Governo do RN, Governo Cidadão, Sethas e Banco Mundial com a instalação de um poço amazonas para ampliar o abastecimento, construção de nova caixa d’água elevada e redimensionamento das linhas de distribuição, visando garantir o fornecimento às 72 famílias da localidade.

Assim como Geilma, Rita Gomes, 54, estava cansada da rotina no sítio. “Sem água você não é nada. Gosto de plantar e ver tudo nascendo. Eu ia embora e ia deixar meu marido”, conta. Ela também enfrentava a dura realidade de ir até o rio para lavar roupa: saía às 4h da madrugada, lavava a roupa, esperava secar na varanda da vizinha e só voltava pra casa a tarde. “Foi o melhor presente de fim de ano que recebemos”, completa. A água jorrou pela primeira vez em Bamburral no dia 31 de dezembro de 2017.

O agricultor Francisco Rosemberg Lima, 47, está cheio de planos. Quer voltar a plantar hortaliças como alface, pimentão e cheiro-verde, além de capim para alimentar os animais. Morador do sítio desde menino, diz que ver água jorrando na torneira de casa é uma dádiva de Deus. Os irmãos Aldimar e Agnaldo Fernandes lembram que as pessoas faziam fila em frente ao poço da comunidade em busca de água. Agora vão poder usá-la à vontade em suas casas, além de plantar feijão, milho e sorgo para o gado. O projeto em Bamburral inclui ainda instalação de kits de reuso de águas cinza e reflorestamento com árvores frutíferas. O investimento total é de R$ 390 mil.

Para titular da Sethas e coordenador do projeto Governo Cidadão, Vagner Araújo, os investimentos em acesso à água estão evitando que o homem saia do campo e dando a ele possibilidades de subsistência. “Nosso objetivo é proporcionar a essas pessoas maneiras de permanecerem com dignidade onde elas nasceram, cresceram e reconhecem como seu lar, que é a zona rural”, emenda.

Em Governador Dix-Sept Rosado, no assentamento Terra da Esperança, 116 famílias estão sendo beneficiadas com a construção de uma miniadutora, caixa d’água elevada e revitalização de um poço antigo. “Eu moro aqui há 10 anos e esse projeto foi a melhor coisa que aconteceu pra gente”, diz Raimundo Felizardo da Silva, 55.

Já para Raimundo Freitas, 54, que desde 2002 carregava galões de água em cima de uma carroça para abastecer a casa, tudo melhorou 100%. O mesmo aconteceu para Antônia Rosineide, 31, que costumava acumular pilhas de roupas para lavar e agora não precisa mais escolher entre usar água para limpar a roupa, a louça ou a casa. Ela também plantou hortaliças em seu quintal produtivo e hoje cuida com prazer das plantas. “É uma terapia”, diz.

O agricultor Antônio Martins, 49, realizou o desejo de tomar banho de chuveiro. “Já tínhamos tentado de muitas maneiras trazer água pra cá, mas só agora deu certo. É a grande obra da nossa comunidade”, destaca o assentado, que está plantando árvores frutíferas em contrapartida ambiental ao projeto de acesso à água.

Em Campo Grande e Felipe Guerra, os moradores de Ronaldo Valência e Filhos de Fernando vivem novos dias graças à chegada da água às suas casas. No primeiro assentamento, uma passagem molhada com barragem subterrânea foi construída para evitar o isolamento dos moradores em época de enchente, além de captar água para aumentar o volume de produção agrícola e garantir água para os animais, totalizando um investimento de R$ 211 mil. Como contrapartida, os habitantes estão realizando a coleta seletiva dos resíduos sólidos.

No assentamento Filhos de Fernando em Felipe Guerra, foi construída uma miniadutora, uma caixa d’água elevada de 10 mil litros e quatro quintais produtivos, beneficiando nove casas. A contrapartida ambiental é o reflorestamento da comunidade com cajueiros. “Onde tem água tem riqueza e fartura”, diz o agricultor Arnandes Max, 33, que também cria 70 cabras, 50 ovelhas e 21 cabeças de gado.

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