“Está muito tarde para ser candidato”, diz Flávio Rocha

A Revista EXAME conversou com o empresário Flávio Rocha, presidente da rede de lojas Riachuelo e fundador do movimento político Brasil 200 (alusão aos 200 anos de independência que o país completará em 2022). O movimento, lançado em janeiro, reúne empresários como Alberto Saraiva (Habib’s), Sônia Hess (Dudalina) e Antônio Carlos Pipponzi (Raia Drogasil), além de profissionais da iniciativa privada, com a proposta de uma agenda econômica liberal para o Brasil.

Rocha tem viajado Brasil afora para divulgar as ideias do movimento e tem sido sondado por diversos políticos – do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – para assumir uma candidatura em 2018. Ele nega que haja essa possibilidade . Na entrevista a seguir, Rocha explica os planos do Brasil 200 e por que não considera uma candidatura neste ano.

Qual é o propósito do movimento Brasil 200?

A força dele está no formato de não ter compromisso com nenhuma campanha eleitoral. Isso nos dá força para palpitar, influir e nos meter nos programas, e falar da nossa angústia. Há algum tempo tínhamos como natural uma troca de ciclo, por causa das ideias muito ruins da nova matriz econômica, da gastança, do aumento dos gastos públicos. A gente imaginava que os ventos liberalizantes estariam soprando do eleitor. Isso se manifestou eloquentemente na eleição de 2016. E achávamos que deveria estar se manifestando de novo em 2018. Mas o tempo está passando e o pânico está aumentando. Se a eleição fosse hoje, e se as pesquisas estiverem certas, nós devolveríamos o Estado para quem fez desse estrago todo. Para a mesma quadrilha. E qual o diagnóstico? Um governo precisa dizer qual é o papel do Estado. Se é o papel de protagonista ou um papel de coadjuvante. Até agora o Estado foi protagonista e se metia em tudo, até na espessura do colarinho do chope. Porém, nós queremos um Estado coadjuvante. Nós queremos um país que tenha um Estado para lhe servir, e não um Estado que seja proprietário das pessoas. Temos um Estado formado por dois por cento da população e que se apropriou do resto.

 Por que a falta de um discurso liberal causa pânico?

A esquerda, com ideias erradas, tem a coerência entre o discurso da economia e o dos costumes. Os gurus são (Karl) Marx e outro menos conhecido: (Antonio) Gramsci. Marx está morto, enterrado, ninguém nem perde mais tempo em dizer que socialismo na economia dá errado. O fantasma que nos assombra é Gramsci, que dizia ser necessário fazer uma faxina nos valores judaico-cristãos. Não sou moralista, longe disso. Mas fico indignado com a estratégia, cantada em verso e prosa, por vários autores, de que é preciso bagunçar geral. Você viu um vídeo de uma deputada do PT falando que é preciso quebrar todos os tabus de uma sociedade, sobretudo o do incesto? Para ela, quando se quebrar o último tabu, estaremos prontos para construir a partir do zero a sociedade ideal, que é a sociedade socialista. Contra isso, precisamos não só das ideias do liberalismo, de libertar o poder de geração de riqueza que não está na mão do Estado, mas no indivíduo, mas também de uma agenda conservadora e anti-gramsciana, anti-marxismo cultural, que tenha coerência com o liberalismo. Ou seja, constatamos um apavorante vazio, num cenário político de 37 partidos, com as combinações mais esdrúxulas. Há o Macron brasileiro. Há a Le Pen brasileira. Há tudo menos o óbvio, o liberal, conservador e reformista. Temos a obrigação de apresentar um perfil liberal conservador reformista porque isso é algo que o povo está clamando para ter.

Mas dá para conciliar todos esses conceitos?

Contorcionismo é fazer qualquer coisa fora desse conceito. O lógico seria ter um esquerdista gramsciano ou um marxista de um lado e um Reagan, um Friedman, conservador, do outro. Esse é o normal. O exótico, o estranho, o fora do comum, um anti-convencional é um Macron: direita na economia e esquerda nos costumes. Ou Le Pen, que é direita nos costumes e esquerda na economia.

Mas há movimentos mundo afora pressupondo liberdade na economia e nos costumes, como é o caso do Livres no Brasil.

São libertários, que pressupõem ausência de Estado. Mas, para nós, do Brasil 200, é preciso haver um Estado mínimo. Não precisa ser uma carruagem estatal de 50 por cento do PIB, porque isso nos tira do jogo competitivo. O carrapato está maior que o boi. Quando isso acontece, os dois morrem junto. O boi fica exangue e o carrapato morre junto.

Quem se coloca hoje como o Macron brasileiro? O apresentador de tevê Luciano Huck?

Eu não daria ao Huck ainda o crédito de ser liberal. Estamos aí com uma nova tese, que serve à esquerda, de dizer que esse negócio de esquerda e direita está superado. É antigo, porque os países decidiram 50 anos atrás que iam ser liberais ou estatizantes. Estamos postergando, empurrando com a barriga essa decisão há 50 anos. Por isso a discussão de liberal ou estatizante no Brasil é mais do que atual. Não temos mais tempo para escolher se queremos seguir o lado da Coreia do Norte ou o da Coreia do Sul. Se nós queremos um Estado protagonista ou um Estado servidor.

Possível candidatura em 2018

O senhor já foi candidato a presidente e foi deputado. Tem vontade de voltar à política?

Isso é convocação, é chamamento. Acho que está muito tarde para ser candidato. De fato eu não tenho nem partido. Não tenho voto. Está tarde para construir a densidade eleitoral. Eu tenho a impressão que a gente consegue influir e ser muito mais decisivo, realmente contribuir, para a troca de ciclo, para a mudança no país, que está seriamente ameaçada, com o movimento Brasil 200. Se eu tivesse me lançado de paraquedas, inadvertidamente, e recitando essas ideias como candidato a presidência, nem de longe estaríamos tão próximos de fazer o gol como estamos agora, com a impressionante performance do Brasil 200.

Mas se fosse convocado, pensaria?

Não seria porque na hora que eu dizer que sou candidato imediatamente eu comprometeria o crescimento, a credibilidade e a capacidade de influenciar que o Brasil 200 tem agora. O Brasil 200 só está assim porque não está a serviço de um candidato. Está questionando, palpitando, botando o dedo na ferida, cobrando o porquê dessa lacuna na política. É inexplicável essa lacuna. Falta um Reagan no Brasil. Não um Macron. Falta um rosto que seja contraponto a esse triste período esquerdizante que o país está querendo deixar para trás. Esse contraponto não é só no economês. É no economês e nos costumes. Porque há uma demanda por ordem. E só isso justifica o incrível fenômeno Bolsonaro.

Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cogitou seu nome para uma candidatura à Presidência em 2018. Se instado pelo ex-presidente, o senhor aceitaria concorrer – e em que condições?    

Não deixa de ser lisonjeiro. Um dos maiores homens públicos do país lembrou-se do meu nome. Infelizmente o sucesso do Brasil 200 deve-se ao fato da sua desvinculação a qualquer projeto eleitoral. Por isso estamos conseguindo ser ouvidos e respeitados.

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