Na terra da Branca de Neve

Houve um tempo em que ser ministro era o máximo da glória e da honraria; quando um ministro entrava numa sala, as pessoas emudeciam, tremendo de respeito e orgulhosas de dividir o ambiente com tão nobre figura.

O Brasil viveu este ano o máximo da avacalhação do papel do ministro de Estado. Cinco pediram demissão após denúncias de corrupção e outro caiu por causa da língua que não cabia na boca. Se não entregassem a famosa carta à presidente Dilma, seriam mandados embora do mesmo jeito. Aos relembrarmos os últimos 20 anos, o currículo da Esplanada dos Ministérios é triste, de Zélia, que confiscou nossa tão suada poupança, a Lula, que perdeu nove ministros. Nos últimos nove anos, o Brasil viu cair 15 ministros acusados de envolvimento em escândalos de corrupção.

Fico imaginando o momento do pedido da demissão. Devem imperar aquela situação embaraçosa, a lembrança dos abraços e apertos de mão da cerimônia de posse, os bajuladores que imploravam favores, o constrangimento de não entregar o que foi prometido à patroa, o peso de saber que sua cabeça seria cortada de qualquer jeito, mesmo que ele não a oferecesse numa bandeja de prata, ou melhor, ferro oxidado. Como voltar para casa e explicar à família que você decepcionou uma nação inteira, que chegou à Brasília alçado ao mais alto cargo de confiança do país e que saiu de lá tendo que prestar explicações à Justiça, investigado?

E não me venha com a conversa mole de que a presidente está fazendo uma faxina essa história não cola mais. Por acaso alguém limpa a casa só depois que aparecem os ratos e que a poeira forma uma crosta negra em cima dos móveis? Ou faxina é um ato diário e infinito de culto ao perfume do lar e à saúde? Pelo menos ela demite, dizem alguns. Há outra opção?

As soluções que Dilma encontrou para preencher as cadeiras vazias tampouco convencem. Quem disse que a ministra Ideli Salvatti ficou feliz ao sair do produtivérrimo Ministério da Pesca para assumir o das Relações Institucionais? E se ela tivesse nascido com a vocação para o Ministério da Pesca e fosse umbilicalmente apegada à causa dos peixes? Aliás, alguém saberia recitar o nome de todos os  ministros, como os dos apóstolos e os dos jogadores da Seleção Brasileira? Na verdade, ninguém se interessa por uma lista que pode mudar amanhã ou depois.

Pessoas que não se apequenem diante da sedução de seu cargo, que almejem se tornar grandes ao fazer do Brasil um grande país. Quando o sétimo ministro cair (a essa altura do campeonato, ninguém tem dúvida de que isso vá acontecer), quem poderá culpar os humoristas que apelidarem a presidente de Branca de Neve? Nessa fábula política, os ministros viraram sapos, a madrasta é a corrupção e o final infeliz sobrou para todos nós, povo brasileiro.

Da Revista Época

Uma resposta

  1. O Cenário politico do Brasil apodreceu… Todos os dias a imprensa nos apresenta grandes ladrões…

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