Continuidade é desafio dos projetos de agricultura familiar no Nordeste

A falta de apoio técnico e sustentação financeira no futuro é a principal ameaça aos projetos de agricultura familiar realizados pelos governos de estados nordestinos com recursos de organismos internacionais. O diagnóstico emergiu dos debates no terceiro dia do 15o. Fórum de Gestores e Gestoras Públicas da Agricultura Familiar no Nordeste, realizado no auditório da Cecafes (Central de Comercialização da Agricultura Familiar e Economia Solidária), em Natal, na manhã desta sexta-feira (5).

A questão da continuidade dominou boa parte do painel ‘A cooperação internacional e uma nova agenda para o desenvolvimento do Nordeste’, com a participação de Otávio Damiani, do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), e de Fátima Amazonas, do Banco Mundial. Uma das soluções apontadas é a articulação entre os governos da região, compartilhando experiências bem-sucedidas e propondo projetos de caráter regional, que podem facilitar a obtenção de recursos e também enfrentar ‘no atacado’ problemas comuns a todos os estados.

Os representantes dos dois bancos historiaram os investimentos em agricultura familiar já realizados na região, desde a década de 1970, e apontaram as prioridades presentes e futuras — todas voltadas para o desenvolvimento sustentável, do ponto de vista ambiental e da continuidade após o encerramento de projetos de financiamento. No caso do Rio Grande do Norte, o foco é o Governo Cidadão, realizado pelo Governo do Estado com recursos do empréstimo do Banco Mundial, e com prazo de execução até março/2021.

 

Fátima Amazonas, que gerencia o projeto potiguar no âmbito do banco, alertou para a necessidade de assegurar, por exemplo, que os agricultores familiares beneficiados continuem a ter apoio especializado após o fim do Governo Cidadão. “A assistência técnica tem que ser permanente”, acentuou. Ela acredita que a articulação entre os estados, numa espécie de planejamento regional, fortalece o setor e aumenta as perspectivas de sucesso dos projetos de agricultura familiar.

 

A integração também é vista como a melhor estratégia para reverter o que a representante do Banco Mundial chamou de “curva descendente” do setor na escala de prioridades da atual gestão federal, que devolveu a agricultura familiar ao controle do Ministério da Agricultura, retirando a autonomia e a prioridade conquistadas em gestões anteriores.

 

O secretário de Gestão de Projetos e Metas, Fernando Mineiro, que coordena o Governo Cidadão, também defendeu a regionalização dos projetos e da mobilização política, como uma forma de se contrapor ao desmonte institucional da agricultura familiar no governo de Jair Bolsonaro. Ele ressaltou que a atuação conjunta já foi abraçada pelos governadores nordestinos como estratégia e sugeriu que o Fórum da Agricultura Familiar “se some ao fórum de governadores, não só na defesa do setor mas também para enfrentar outro grande desafio, que é justamente o acesso a financiamentos internacionais”.

 

Mineiro propôs ainda que a experiência do fórum de agricultura seja estendida a outras áreas da gestão pública, como educação, saúde, segurança e infraestrutura. “Nós precisamos levar essa iniciativa bem-sucedida, de troca de experiências e reflexões, ideias e mobilização, para outras áreas de governo que enfrentam as mesmas dificuldades”, disse o secretário.

 

O fórum em Natal foi realizado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Regional e Agricultura Familiar (Sedraf), com apoio do Projeto Governo Cidadão. Além dos representantes dos dois bancos e do secretário Fernando Mineiro, participaram gestores públicos dos nove estados nordestinos e representantes de instituições e de movimentos sociais ligados à agricultura familiar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Recentes

março 2024
D S T Q Q S S
 12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
31  
Categorias