Bacurau entoa protesto a favor de vidas nordestinas esquecidas no sertão

Após premiação no Festival de Cannes, “Bacurau” fez sua primeira exibição pública em solo brasileiro. No aclamado Festival de Cinema de Gramado, o longa dirigido pelos pernambucanos Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho, foi aplaudido durante toda a passagem dos créditos finais.

O retrato do nordeste brasileiro tem se firmado a cada dia nas produções cinematográficas, e pode-se dizer que “Bacurau” realizou o trabalho com propriedade. O filme conta o cotidiano de um município que já nem se encontra no mapa, podendo-se dizer “esquecido” pelo restante do país.

Apesar de alguns personagens terem um papel mais significativo, nenhum deles é protagonista. Como o próprio nome já diz, o centro das atenções é a cidadezinha, que nem asfalto tem e é composta por pouco menos de 50 moradores.

Ao serem atacados por desconhecidos, os moradores de Bacurau se veem impelidos a lutar por sobrevivência. Cada morador executa o papel com maestria. Quem tem um papel de importância é o ator alemão Udo Kier (Melancolia), que por algum motivo está no sertão brasileiro. Ele interpreta um vilão bruto, mas que acaba respeitando alguns princípios pessoais.

A fotografia de Pedro Sotero em tons quentes e verdes tentou mostrar algo que pouco se vê nos longas que retratam o Nordeste do país. As plantas dão mais cor e vida em meio ao amarelo caloroso que parece desgastar os personagens. O contraste do tom de pele dos personagens, sejam eles pretos, pardos ou brancos, também contribui para uma fotografia ainda mais linda.

Parte importante do elenco, o ator Wilson Rabelo, que interpreta o professor Plínio no filme, comenta que se conectou com o personagem ao busca descobrir a origem de sua identidade como brasileiro. No início do longa, o personagem vê a própria mãe morrer e deixar um legado para os moradores da cidade.

“Em Bacurau, as pessoas têm uma maneira de integrar-se a partir das suas experiências. Eu me considero um educador, mais que um professor, um cidadão que troca seu conhecimento. O importante em Bacurau também para o Plínio é ser filho da Carmelita, que considero ser uma citação aos quilombos que existiam no Nordeste e são muito poucos referenciados. Considero o Plínio um representante do ‘quilombismo’ na região”, relembra o ator.

O curador do Festival de Cinema de Gramado, Marcos Santuário, explica a importância de ter um filme como “Bacurau”, que “provoque dentro do universo cinematográfico”. Para ele, o cinema brasileiro tem que dialogar com o melhor cinema feito em todo o mundo.

“No momento que o filme foi selecionado para Cannes já ficamos de olho, começamos o contato com Kleber, Juliano e a Emily, que é a produtora. Eles gostaram muito da experiência anterior que eles tiveram aqui com o filme Aquarius, a Sônia Braga também adorou estar aqui e foi homenageada naquele ano. A gente sabia que esse começo, neste ano, iria ser forte”, contou Rabelo.

A estreia do Bacurau em todas as salas de cinema brasileiras será no dia 29 de agosto. É um filme que vale a pena, faz refletir e dá até um gostinho de faroeste, com cenas de tiroteio e mortes sangrentas. Por Sara Rodrigues – Agência do Rádio

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