Após rejeição do Orçamento, fim do governo socialista espanhol é iminente

Quatro meses antes de completar um ano, o governo espanhol liderado pelo socialista Pedro Sánchez dá seus últimos passos, depois que o Parlamento rejeitou nesta sexta-feira sua proposta de Orçamento. Uma aliança entre os partidos da direita, PP (Partido Popular) e Cidadãos, e os independentistas catalães impôs a Sánchez uma derrota por 191 a 158 votos, com uma abstenção, e abriu caminho para a convocação de novas eleições gerais, que seriam as terceiras desde dezembro de 2015.

Sánchez chegou a poder graças ao apoio do Podemos, de esquerda, e a partidos nacionalistas das regiões espanholas, que em junho do ano passado aprovaram uma moção de censura contra o então chefe de governo Mariano Rajoy, do PP, envolvido em escândalos de corrupção. Com apenas 84 das 350 cadeiras do Parlamento espanhol, o Psoe (Partido Socialista Operário Espanhol) de Sánchez dependia do respaldo das mesmas agremiações minoritárias para continuar governando.

A questão da Catalunha, no então, acabou dividindo a frágil coalizão informal. Além dos Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e do Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT), também votaram contra o Orçamento do governo o Fórum Astúrias, a Coalizão Canária, a coalizão basca Bildu e o galego En Marea. Com isso, o projeto foi devolvido ao Gabinete.

A partir da rejeição das contas, o chefe de governo pode convocar eleições a qualquer momento. De acordo com o jornal espanhol El País, a expectativa é que Sánchez o faça na sexta-feira. Opositores consideram que o atual líder não tem outra escolha. Ele mesmo já disse que, sem o Orçamento, “se encurta a legislatura”. Um novo pleito deve ser marcado para o mês de abril, no dia 28.

Na semana passada, Sánchez tentou criar pontes com os separatistas catalães ao propôr a indicação de um relator especial para negociações políticas em torno do pleito de independência da Catalunha. A iniciativa acabou rejeitada pelos separatistas e também criticada pelas forças da direita, que classificaram o gesto como uma traição e uma rendição à pressão dos independentistas. As divisões em relação à questão se intensificaram na última terça-feira, com o começo do julgamento de 12 separatistas acusados de rebelião e outros crimes por promoverem um referendo declarado ilegal por Madri e declararem a secessão da Catalunha em outubro de 2017.

Nesta quarta, porta-vozes do Podemos e do Partido Nacionalista Basco (PNB) ainda tentaram argumentar com os independentistas. Joan Mena, do braço catalão do Podemos, apelou aos catalães que recordassem seu passado e não “erodissem as pontes” criadas quando se juntaram na aprovação da moção de censura contra Rajoy. Quando na chefia do governo, o líde direitista adotou uma posição linha-dura em relação aos separatistas e acabou suspendendo a autonomia catalã, medida que foi revogada por Sánchez.

Mas não houve recuo: os separatistas exigiam que o governo negociasse a realização de um referendo de autodeterminação da Catalunha. A ministra da Fazenda, María Jesús Montero, reiterou que Madri não poderia incluir tal demanda na ordem do dia.

O sistema político espanhol se encontra fragmentado desde as grandes manifestações dos Indignados contra a austeridade imposta no país depois da crise financeira de 2008. Dois novos partidos nacionais surgiram no bojo dos protestos, o Podemos e o Cidadãos. Com isso, as eleições de dezembro de 2015 resultaram, pela primeira vez desde a democratização espanhola em 1975, em um Parlamento que deixou de ser dominado pelo Psoe e o PP, os dois partidos que até então se revezavam no poder.

O Globo

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