A igreja e o cabaré e as orações que não valeram de nada

bordel

Conta-se que, no Ceará, um cabaré processou uma igreja evangélica. Madame Tarsila Bezerra estava expandindo o seu cabaré, cujas atividades estavam em constante crescimento depois da criação do seguro desemprego para pescadores e de vários outros tipos de bolsas ofertadas graciosamente à população.

Em reposta, a igreja evangélica local iniciou uma forte campanha com sessões de oração de manhã, de tarde e de noite, invocando a interferência divina, com o objetivo de impedir aquela expansão que, certamente, colocaria em sério risco o futuro dos novos convertidos, alvos de seu proselitismo, que poderiam ceder às tentações.

Uma semana antes da reinauguração um raio atingiu o cabaré queimando as instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu o telhado e grande parte da construção. Após a destruição parcial do cabaré, o pastor e os crentes da igreja passaram a alardear que eram responsáveis diretos pelo milagre divino, creditando-o ao grande poder da oração dos fiéis da igreja.

Foi então que Madame Tarsila, tomando conhecimento das declarações bombásticas dos crentes, entrou com um processo contra a igreja, o pastor e toda a congregação, com o fundamento de que eles foram os responsáveis pelo desastre ocorrido com seu prédio e pelo grande prejuízo que se abateu sobre o seu negócio, quando invocaram a intervenção divina, através das orações e meios espirituais diretos e indiretos.

Na sua resposta à ação judicial, a igreja, com o tácito objetivo de ver-se livre do ônus que se abateria sobre ela, em decorrência dos prejuízos causados ao cabaré, cuidou de negar, peremptória e veementemente, toda e qualquer participação ou ligação com o desastre ocorrido com o patrimônio de Madame Tarsila. Aquilo nada tinha a ver com as orações dos fieis. Foi um simples fenômeno da natureza. Afinal de contas, afirmaram, oração nenhuma possuía aquele poder!

O juiz, a quem o processo foi submetido, leu a reclamação da autora e a pronta alegação dos réus e, na audiência de abertura, comentou estupefato: “Nesse caso eu não sei como vou decidir. No entanto, uma coisa resta patente nos autos: temos aqui uma proprietária de cabaré que acredita fortemente no poder das orações e uma igreja inteira declarando que as orações não valem nada!”.

Por Nivaldo Ferreira da Silva – Jornal de Hoje

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